domingo, 10 de agosto de 2014

Texto: A busca de Deus - Dave Hunt

A busca de Deus - Dave Hunt

A maioria dos pais tem se sentido frustrada (ou divertida) com uma curta e constante pergunta dos filhos: “Por que?”, a qual é continuamente repetida. Entretanto, cada resposta que tentam dar gera uma outra pergunta: “Mas, por que?” Todas as crianças pequenas reconhecem que deve haver uma razão para tudo.

A insistência do “por que?” reflete uma busca instintiva para uma resposta definitiva, além da qual não existam mais perguntas. Para alguns essa curiosidade natural se inicia com a busca de Deus, Aquele que prometeu: “E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração” (Jeremias 29:13). Mais que freqüentemente, porém, essa busca não é de todo o coração e o que deve ter começado como uma busca honesta logo se transforma num motivo sem valor (desculpa) ou coisa assim.

À medida em que os filhos crescem e o desapontamento se transforma em cinismo, muitos deles perdem o interesse por questões vitais e passam a fazer com que suas vidas girem em torno de trivialidades mundanas. A sede espiritual de Deus incrustada na alma por Aquele que “é amor” (1 João 4:8) e que criou o homem para Si mesmo, e pela espiritual “água da vida”, que somente Jesus Cristo pode dar (João 4:14; 7:37-39; Apocalipse 22:17), é confundida com a sede do corpo por uma coisa física. O que deveria ser de “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo…” (Salmos 42:2), “A minha alma está desejosa, e desfalece pelos átrios do SENHOR; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo” (Salmos 47:2), transforma-se em “tenho sede de dinheiro, de sexo, de prazer, de sucesso, de roupas caras e de comida deliciosa” – e o vazio espiritual vai piorando sempre.

No colégio e na universidade, os confiantes estudantes “aprendem” que não existe verdade, não existem absolutos, não existem respostas definitivas e que tudo é relativo – então qual é a finalidade de tudo? A porta para a vida eterna é estreita demais para o seu gosto (e a declaração “Provai e vede que o Senhor é bom” [Salmos 34:8] parece mística e tola), e, desse modo, eles se juntam às multidões que “entram pela porta larga, que conduz à destruição” (Mateus 7:13-14). A vida se torna, então, em vã perseguição do momentâneo prazer carnal – e muitas igrejas, tragicamente, se satisfazem nessa mortal obsessão, oferecendo prazer e diversão. Oferecem ensinos superficiais e sem contestação, a fim de atrair os jovens “para Cristo”.

Até mesmo entre os cristãos existem poucos que dão muita atenção ou se preparam seriamente para a eternidade, sim, eternidade. Qualquer obra do Espírito Santo (de convencer do pecado, da justiça e do juízo, João 16:18) que tenha sido enraizada no coração, logo é arrancada pelos “cuidados deste mundo” (Mateus 13:22), enquanto os mais velhos (com raras exceções) resvalam pelo caminho que conduz à morte. Existem, contudo, muitas pessoas não salvas, que não conseguem escapar à sóbria verificação de que esta vida passageira termina cedo demais – temendo o que existe além da mesma. Estas anseiam por respostas agradáveis às questões sérias que as assaltam, nos momentos de reflexão. Não é mais o trivial que preenche a vida diária que elas buscam, mas respostas definitivas às questões mais importantes da vida. É para essas pessoas que Pedro nos diz que devemos estar “sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que nos pedir a razão da esperança que há em nós” (1 Pedro 3:15). O Senhor tem me conduzido a muitas dessas pessoas, freqüentemente aquelas que sentam ao meu lado no avião, o motorista de táxi ou – quem sabe?

A maioria das pessoas que tem pensado seriamente sobre a vida e a morte sabe que Deus existe. Aos que estão na dúvida, podemos provar rapidamente a Sua existência (Ver a TBC de agosto, 2002). Esse fato conduz a sérias conseqüências que devem ser encaradas nesta vida. Esperar pelo após a morte é, obviamente, tarde demais, conforme Hebreus 9:27: “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo”.

Para os que reconhecem que o túmulo não é fim da nossa existência, Satanás oferece outros motivos, tais como a sobrevivência espiritual e a reencarnação (também facilmente refutadas na TBC de setembro 1998). É o pensamento do julgamento e castigo eterno que muitos não cristãos (e até mesmo muitos que professam ser cristãos) acham difícil de aceitar. Estreitamente relacionada está a perturbadora indagação do por que Deus permitiria o pecado e o sofrimento.

Exatamente aqui somos forçados a discordar da afirmação calvinista de que tudo que acontece – toda tragédia e maldade – é exatamente o que Deus quis, desde a eternidade. Essa crença parece justificar a queixa dos ateus: “Se o vosso Deus não pode evitar todo sofrimento e mal, ele é fraco demais para ser Deus; e se ele pode e não o faz, então é um monstro indigno de nossa confiança”.

É claro que a simples resposta é que Deus não é a causa do mal. O homem é quem é. Sim, Deus permite o mal. Existe algo melhor do que causá-lo? Obviamente existe uma enorme diferença. Somente uma explicação do terrível estado deste mundo fala diretamente à consciência e é declarado na Bíblia (e aqui novamente nos encontramos em conflito com os nossos amigos calvinistas). Deus deu ao homem o livre arbítrio, de modo que possamos voluntária e conscientemente amá-Lo e para que cada um não seja um bruto governado pelo instinto, ou pior, meros fantoches com Deus puxando os cordões.

Desse modo, a única maneira de eliminar o mal deste mundo seria eliminar a raça humana, pois, conforme Jesus falou, “… do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mateus 15:19). A triste verdade é que “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9), o que não é fácil de se admitir. Adoramos censurar os outros e uma característica da psicologia é encorajar o “nunca é culpa minha, mas dos pais, da sociedade, das circunstâncias, das decepções, etc.”. O primeiro passo para a cura é assumir a culpa voluntariamente e encarar as conseqüências.

Portanto, o homem é pecador e o pecado deve ser castigado. O que a Bíblia declara faz sentido e cada consciência sabe disso: qualquer que seja a penalidade prescrita pela lei, ela deve ser paga. Se Deus não castigasse o pecado, Ele estaria sendo conivente com o mesmo. Um dos principais problemas de nossa sociedade hodierna é a falta de punição, que resulta em abrir as portas das prisões e anular os votos matrimoniais, os quais têm perdido a significação e são quebrados com escasso sentimento de culpa ou remorso, sem receio das conseqüências e sem a mínima simpatia pelos outros, “tendo cauterizada a sua própria consciência” (1 Timóteo 4:2). É isso que o homem mundano tem feito e não é esse o mundo criado por Deus.

O homem foi criado à imagem de Deus para refletir o caráter divino em cada pensamento, palavra e ação. Mas ele deveria fazer isso consciente e voluntariamente, não como um robô ou um brinquedo de corda. Ele deveria ter livre arbítrio, de modo que pudesse voluntariamente e em amor satisfazer o projeto divino de sua existência.

Adão e Eva escolheram voluntariamente desobedecer a Deus, destruindo, desse modo, a maneira como Deus os havia criado e com o pecado foram “destituídos da glória de Deus” (Romanos 3:23). Nenhuma quantidade de boas ações no futuro poderia pagar pelo pecado do passado. Pela exata definição de quem Ele é, Deus não poderia tolerar a rebelião em Seu universo. Imediatamente Ele expulsou Adão e Eva do idílico paraíso que para eles havia criado – sem deixar, contudo, de graciosa e amorosamente oferecer-lhes uma alternativa. Eles e seus descendentes poderiam ser reconciliados com Ele, em Seus termos, é claro – ou então iriam sofrer a eterna separação, não exatamente do Jardim, mas de Sua presença. A escolha eles e seus descendentes deveriam fazer.

Tendo sido criados para ter comunhão com Deus, o qual lhes havia dado a vida, sendo o Único que poderia sustá-la, a separação de Deus significava, portanto, uma sentença de morte. Deus deixou isso claro, desde o princípio. Ele dera a Adão e Eva o mandamento mais fácil que havia – fora as centenas (e talvez milhares) de árvores do jardim, eles não poderiam comer de uma apenas. É isso, apenas uma! E Deus admoestou claramente: “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2:17). A morte não estava no fruto, porém na desobediência.

Ninguém pode participar de um jogo sem regras. Certamente não seria razoável que Deus tivesse regras em Seu universo? Sem as leis físicas o universo (se é que ele ao menos pudesse existir) seria um caos inimaginável.

Sendo o homem um ser moral, dele se exigem regras morais e permitir que estas sejam quebradas sem castigo seria gerar o caos moral. Vemos isso em menor escala nas famílias, onde pais amorosos, mas muito indulgentes, que não castigam seus filhos consistentemente, sempre que estes quebram as regras, fazem com eles se tornem rebeldes. A criança logo aprende que pode fazer o que bem desejar, arruinando depressa a vida de todos.

A própria vida nos ensina a tolice de indagar por que deveria haver castigo para o pecado. Cada um entende por que isso deve acontecer, quer admita ou não. E exatamente aqui encontramos um sério empecilho à fé de muitas pessoas. Inquestionavelmente, a Bíblia ensina que o castigo do pecado é eterno. Jesus nos admoestou claramente sobre o inferno e a este se referiu como o “inferno de fogo, o fogo que nunca se apaga” (Marcos 9:45).

Por que? É a queixa inevitável. Por que o castigo deveria ser eterno? Isso parece severo demais. Por que Deus não pode nos castigar com variados espaços de tempo, dependendo do que cada pessoa fez e em seguida perdoar-nos? Por que iria Deus sentenciar cada pessoa, até mesmo um Hitler, ao castigo eterno? Por que deveria ser eterno o lago de fogo? A resposta está em Quem Deus é e no fato de que Ele criou o homem à Sua imagem (Gênesis 1:27). Vamos considerar cuidadosamente o que isto significa.

A penalidade do pecado é a morte. Obviamente, a morte nos separa da vida. E como a vida provém de Deus, então a morte nos separa de Deus, o Doador da vida. Desse modo, não há remédio para a morte, exceto para o pecador que se torna puro e santo à vista de Deus, a fim de com Ele reconciliar-se. Ao contrário da crença católica romana de purgar os pecados nas chamas de um imaginário purgatório, nenhum castigo ao pecador poderia jamais purificá-lo do pecado.

Deus é perfeito em santidade e não pode manter comunhão com pecadores. Não é uma questão de procedimento – se é ou não uma atitude de encorajamento ao pecado. É uma questão de como Deus é e da natureza exata do Seu ser Ele não pode comprometer-se com o mal nem retroceder em Sua Palavra. Não pode? Sim, “Ele não pode negar-se a si mesmo” (2 Timóteo 2:13). E por isso a penalidade do pecado é a morte eterna – não o extermínio, mas a separação de Deus, para sempre!

O desafio voluntário a Deus não pode ser tolerado. Isso não significa severidade da parte dEle; é a inevitável conseqüência do pecado. Uma quebra nas leis morais de Deus não pode ser tolerada mais do que uma quebra nas leis físicas. A conseqüência é exigida pela natureza do próprio ato e pelo Deus que foi desafiado. A lei da gravidade não pode ser repentinamente revertida (apenas neste caso, por favor) para uma pessoa que cai do andar superior de um prédio de 50 andares, quer tenha ela caído acidentalmente, pulado ou sido empurrada.

Deus pronunciou a penalidade do pecado. Se Ele retrocedesse em Sua Palavra, como poderíamos crer em alguma coisa que Ele falou? Pela exata definição de quem Deus é, e pela natureza do pecado, a penalidade do pecado deve continuar. Mas o homem jamais teria possibilidade de pagá-la. Somente Cristo poderia fazê-lo e Ele o fez. A prova de que Ele pagou totalmente a penalidade é que Ele venceu a morte, levantando-se do túmulo. O único remédio para a morte é a ressurreição: “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?” (João 11:25-26).

Ninguém jamais experimentou a morte em toda a sua terrível totalidade e finalidade – sua absoluta separação de Deus, o “lago de fogo”… a segunda morte (Apocalipse 20:14). Ninguém, exceto Cristo, sobre o Qual foi dito: “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.”

Não é de admirar que, quando ELe tomou o nosso lugar na cruz, para receber o julgamento de Deus, tenha gritado: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27:46).

O homem rico no inferno é um trágico exemplo da cegueira espiritual a respeito da morte. Ele havia passado a vida inteira tentando satisfazer a sua inata sede espiritual de Deus com riqueza e sucesso. Agora, no inferno, ele não pode escapar a esse trágico engano. Sua língua física está no túmulo, junto ao corpo morto, contudo ele imagina que ela está sendo castigada com a sede física e pede que Abraão mande a “Lázaro, que molhe na água a ponto do seu dedo e lhe refresque a língua” (Lucas 16:24). Ele havia desprezado a “água da vida”, quando esta lhe foi oferecida por Deus e agora, no inferno, nem sequer reconhecia a causa de sua sede. A vida inteira ele havia buscado satisfação para a sua sede espiritual, sede que agora vai queimar para sempre, pois a “água da vida” por ele desprezada, só está disponível, enquanto se vive – a quem a desejar (Apocalipse 22:17).

Jesus falou: “…Se alguém tem sede, venha a mim, e beba” (João 7:37). E sobre os rabinos Ele disse: “E não quereis vir a mim para terdes vida” (João 5:40). Um gole físico de água é tão delicioso como é terrível o sofrimento da sede. A água é essencial aos nossos corpos físicos. Pois o mesmo acontece com a “água da vida”. Ela é absolutamente essencial à vida da alma e do espírito. Desse modo, o “lago de fogo” será o tormento de uma sede espiritual além de toda descrição, assim como céu está além de toda a nossa imaginação [conforme Paulo diz na 1 Coríntios 2:9: “... As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam”].

A sede abrasadora, que não pode ser saciada no “lago de fogo”, jamais vai terminar, do mesmo modo como o êxtase indescritível no céu jamais terminará, por toda a eternidade: “… na tua presença há fartura de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente” (Salmos 16:11). Deus nos criou para Si mesmo, para o Seu amor, para o Seu gozo e para a Sua comunhão. Ficar separado dEle na morte é agonizar em infindável tormento, ao contrário do que os redimidos experimentam no céu.

Que possamos despertar completamente nesta vida para a verdade da nossa eterna herança, de modo que possamos amar e louvar ao Senhor como devemos, sem esperar pelo céu, a fim de fazê-lo. E que possamos ser por Ele usados para despertar muitos não salvos para irem a Cristo e poderem beber da “água da vida”, enquanto ainda podem fazê-lo.

The Berean Call News Letter, julho 2004.

Traduzida por Mary Schultze

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