O Duplo Chamamento
- Christian Chen
"... indica o quanto Deus
quer nos salvar de nós mesmos."
Nos primeiros duplos chamamentos, Deus nos mostra a
esperança do seu chamamento; Ele nos chama para entrar em algo e para deixar
algo. E nos chamamentos do Novo Testamento vemos uma importante característica
comum. O Senhor não chamou Maria, mas Marta; Ele não chamou Pedro, mas Simão,
apesar de ter-lhe mudado o nome para Pedro em Mateus 16; e Ele chamou Saulo,
não Paulo. Esses três nomes indicam o homem natural. Portanto, os chamamentos
do Novo Testamento enfatizam a necessidade de nos apartarmos do homem natural.
Ao seguirmos o Senhor, descobrimos que o maior obstáculo para isso é o homem
natural. Assim, Deus, por um lado, nos mostra onde vamos entrar e, por outro,
nos mostra de onde partimos. Isso é de fato, a esperança do nosso chamamento.
Podemos, por isso, dizer que o chamamento de Abraão, de Jacó
e de Samuel são chamamentos de vida, enquanto o de Marta, de Simão e de Saulo
são chamamentos da cruz. A cruz sempre exige negação, a cruz sempre exige
deixarmos algo; mas seu ponto final é nos levar à morte, pela qual entramos na
ressurreição, mas o crescimento em vida nessa esfera encontra três obstáculos,
representados por Marta, Simão e Saulo.
“Marta, Marta”
Não veremos detalhadamente, mas podemos dizer que Marta
representa o fervor natural, Simão representa a vida natural e Saulo representa
a visão natural. Portanto, ao dizer-nos “Marta, Marta” , O Senhor indica seu
desejo de salvar-nos do fervor natural. Por sermos naturalmente fervorosos,
todas as coisas se tornam complicadas. O Senhor Jesus disse a Marta: “andas
inquieta e te preocupas com muitas coisas”; ou seja, por ter ela muito fervor,
muitas coisas se tornaram complicadas. Depois Ele acrescentou: “Entretanto
pouco é necessário, ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu boa parte e
esta não lhe será tirada” (Lc 10.42).
Que significa o chamamento de Marta? É a obra do Senhor de nos
salvar de muitas coisas para uma só, ou seja, o testemunho de Deus. Para que
haja o testemunho de Deus é preciso que sejamos libertados do fervor natural
que gera dentro de nós muitas coisas; precisamos ser reduzidos a uma só coisa.
Uma pessoa que é realmente chamada é uma pessoa simples. Hoje na igreja há
muitos fervorosos, e isso torna a igreja muito complicada, com muitos caminhos.
Numa grande cidade é muito fácil alguém se perder, pois há muitos caminhos, mas
na Nova Jerusalém, independente da porta pela qual você entrar, só existe um
caminho. Lá você não se perde, pois entrando por qualquer porta, o único
caminho o levará ao trono de Deus.
Portanto, muitos dos problemas entre filhos de Deus, que O
tem impedido de ter seu testemunho, foram gerados pelas pessoas fervorosas,
complicadas, que geram muitas coisas que distraem da única “coisa” que importa,
que é o próprio Senhor, por isso, precisamos ouvir o chamamento “Marta, Marta”.
“Simão, Simão”
Mas precisamos também ouvir “Simão, Simão” o qual está
relacionado à vida natural. Por meio da experiência de Simão, que passou a ser
chamado de Pedro, vemos quão forte é a vida natural.
Quanto Pedro confiava em si mesmo, julgando que nunca
cairia! Por ter a si mesmo como centro, como padrão, ele era muito forte e
confiante em sua vida da alma. Quando negou por três vezes ao Senhor, Pedro
estava esquentando-se próximo a um braseiro (Jo 18.18). É interessante que a
palavra grega traduzida como braseiro aparece apenas duas vezes na Bíblia, e em
ambas há três manifestações de Pedro em relação ao Senhor. Na primeira, como
dissemos, ele negou o Senhor por três vezes, afirmando, com imprecações, que
não O conhecia, na segunda vez numa cena providenciada pela soberania de Deus
Pedro é perguntado três vezes sobre seu amor pelo Senhor.
Pedro e os outros haviam pescado durante toda noite, mas
nada haviam apanhado. Ao voltar para praia, o que encontraram? Ali, na terra,
havia peixe preparado para eles pelo próprio Senhor. Eles queriam peixe e não
estavam pensando em pão, mas o Senhor lhes havia preparado pão e peixe. Peixe é
a riqueza do mar, pão é a riqueza da terra; portanto, o Senhor lhes havia
preparado na praia todas as riquezas. E a Bíblia registra que tudo isso estava
em braseiro (21.9). Porque o Senhor preparou aquelas brasas? Porque outrora
Pedro O havia negado três vezes também diante de outro braseiro. Agora, diante
de outro braseiro, ele declara por três vezes seu amor ao Senhor.
Nosso Senhor salvou Pedro de sua vida natural, no auge de
sua vida natural, na maior demonstração de força de sua vida natural, ele
declarou, “De nenhum modo [eu] Te negarei” (Mt 26.35) Toda vez que falava,
Pedro começava do eu. Mas a cruz começou a fazer uma obra profunda nele. Pedro
caiu e caiu totalmente. Ele foi derrubado pela cruz, e agora não é mais como
antes. Antes ele falava começando com “eu”, mas agora ele diz: “Senhor, Tu
sabes que Te amo”. Começa com Tu, não mais com eu. Agora, o que importa não é
mais a Voz de Pedro, mas a voz de Cristo: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo
vive em mim” (Gl 2.20). Esse é, portanto o significado de “Simão, Simão”.
“Saulo, Saulo”
Por fim temos “Saulo, Saulo”, que representa a visão
natural. Antes de Saulo ser salvo, ele era uma pessoa de três mundos. Na cruz
do Senhor havia uma epígrafe escrita em três línguas, latim, hebraico e grego.
O latim representa o mundo político e militar de Roma, o hebraico representa o
mundo religioso dos judeus e o grego representa a cultura da civilização grega.
Somando o mundo militar ao político, ao religioso e ao cultural, temos a
totalidade do sistema de Satanás chamado de mundo. Portanto, quem crucificou o
Senhor Jesus? Foi o mundo; foi o mundo que disse: “Crucifica-o! crucifica-o!”,
“Elimina-o! Elimina-o”.
Saulo era um homem absolutamente mundano. Ele era “hebreu de
hebreus” (Fp 3.5). Ele era excelente no mundo hebraico. Ele cresceu na cidade
de Tarso, que era uma cidade universitária. Isso liga à cultura grega, além
disso, ele era um cidadão romano. Portanto, o mundo que Saulo abraçava era
composto por estes aspectos, os quais haviam crucificado o Senhor.
Por isso, não é de estranhar que, antes da sua conversão,
ele perseguisse os filhos de Deus. De acordo com Deuteronômio, “o que for
pendurado no madeiro é maldito de Deus” (21.23). Assim, uma vez que o Senhor
Jesus havia sido pendurado no madeiro, ele não poderia ser o Messias, pois, era
um maldito. E aqueles que O seguiam também malditos. Essa atitude era
determinada por seu forte envolvimento com o mundo religioso. Os três mundos
estavam representados em Saulo.
Como outrora o mundo havia crucificado o Senhor Jesus,
agora, por meio desse seu grande representante queria também colocar Seus
seguidores na cruz.
Então Saulo, tomando cartas dos lideres judeus em Jerusalém foi para Damasco a fim de prender os cristãos dali. Ele era ambicioso e tomado
pela visão mundana do sucesso. Por causa disso, ele não conseguia, por exemplo,
perceber que Israel estava sob o domínio do império romano e ocupando apenas
uma pequena porção de terra que Deus havia prometido a Abraão. Ao ler o livro
de Atos, veremos que era capaz de citar um poema grego enquanto pregava. Isso
mostra como aquela cultura realmente o dominava.
Por um lado, ele havia permeado pela Palavra de Deus do
Antigo Testamento, mas sua visão era mundana: ele conhecia a cultura Grega e
sabia que os romanos eram muito práticos. Por isso afirmou que “os judeus pedem
sinais, como os Gregos buscam sabedoria” (1CO 1.22). Portanto, para os gregos a
cruz era sinal de estupidez, enquanto para os judeus, de fraqueza. Mas, para
Paulo, Cristo crucificado era “poder de Deus e sabedoria de Deus. Porque a
loucura de Deus é mais sábia do que os homens: e a fraqueza de Deus é mais
forte que do que os homens. (vv 24, 25)”. [Aleluia!]
Essa é a mensagem da cruz
Paulo declarou aos Corintios; “decidi nada saber entre vós,
senão a Jesus Cristo, e Este crucificado” (2.2). Ele disse isso tendo em vista
o que o conhecera do mundo, por saber o que queriam os gregos e os judeus. Eles
queriam, mas, não alcançaram, pois desprezavam a cruz, e a cruz era exatamente
o que eles precisavam.
Antes de sua conversão, Paulo era uma pessoa cheia de visão
mundana. Mas graças ao Senhor, no caminho de Damasco, uma grande luz do céu
brilhou ao seu redor e ele ficou cego. Seus olhos tinham contato com o mundo de
então; eram olhos penetrantes, que lhe traziam todas as informações de que
precisava para solidificar mais e mais sua maneira de ver as coisas.
Deus, então o cegou para o mundo e, desde então seus olhos
tiveram problema. Eu, pessoalmente creio que, por que aquela luz foi muito
forte, Paulo tenha contraído catarata; por isso, aos gálatas ele escreveu:
“Vede com que letras grandes vos escrevi” (6.11). Eu já tive catarata: por
causa dela vê-se o mundo todo nublado.
Assim sendo, desde aquele dia, o mundo tornou-se nublado
para o jovem perseguidor da igreja. A partir daquela voz: “Saulo, Saulo” o
Senhor salvou-o da visão mundana, pois aprouve a Deus revelar Seu Filho nele
(Gl 1.15,16). Seus olhos físicos estavam cegos, mas, seus olhos interiores se
abriram. Ele conheceu Cristo e Sua Cruz. Antes quando via, ele era, na verdade,
cego, pois achava a cruz uma tolice; achava que a cruz era um sinal de
fraqueza, pois ele abraçava o entendimento do mundo romano e do grego. Ambos os
povos haviam negado ao Senhor Jesus e perseguiam seus seguidores.
Paulo era cego, ele não via; mas quando ficou cego no
caminho de Damasco, quando viu o Senhor da glória, interiormente Deus lhe abriu
um novo mundo, e este novo mundo é uma pessoa! Ele encontrou Cristo! Aleluia,
agora ele via! Aquela cruz que ele desprezava, aquela cruz que para ele era
fraqueza, aquela cruz que ele julgava tola, agora ele viu que ela representava
a sabedoria e o poder de Deus.
Oh irmãos e irmãs, que maravilhoso é o chamamento de “Saulo,
Saulo”! Por um lado, seus olhos foram cegados, por outro, eles se abriram. O
chamamento da Cruz fez com que seus olhos cegassem; o chamamento da vida fez
com que seus olhos interiores se abrissem. Portanto “Saulo, Saulo” significava
que Deus quer nos salvar da visão natural.
“Marta,Marta”, “Simão, Simão” e “Saulo ,Saulo” somados
indicam o quanto Deus quer nos salvar de nós mesmos. Nosso ego é o homem
natural, que, ao manifestar seu fervor, é representado por Marta; ao manifestar
sua força e vida, é representado por Simão, e ao manifestar sua visão, é
representado por Saulo. O que Marta, Simão e Saulo representam são três grandes
obstáculos para o crescimento da vida, e a cruz tem de eliminar todos eles. Por
que hoje o testemunho de Deus está em desolação? Porque muitos não ouviram
“Marta, Marta”, muitos não ouviram “Simão, Simão” muitos não ouviram “Saulo,
Saulo”.
Fonte: O Duplo
Chamamento - Editora: Tesouro Aberto / http://www.celebrandodeus.com.br/Data_Site/002TextoSite.asp?ID=1434
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