A Transformação da Mente - 3º Parte
Rodrigo Abarca : Revista Águas Vivas – Nº 64
Publicação: 13/01/2012
O processo de transformação –ou metamorfose– do cristão à semelhança de Cristo começa com a renovação do entendimento Rm 12.1-2
A Escola de Cristo
Necessitamos, portanto, saber de que maneira prática colaboramos com a renovação do nosso entendimento. O grande teólogo puritano John Owen afirmou que o Espírito Santo opera em nós e conosco, mas nunca sem nós. Compreender isto é fundamental. Como dissemos no princípio, Deus deseja que colaboremos com ele em nossa transformação. E aqui ele cobra uma importância essencial o uso dos nossos corpos. Por isso, a primeira coisa que devemos fazer, a fim de renovar as nossas mentes, é apresentar os nossos corpos a Deus em holocausto vivo, segundo Romanos 12:1.
De fato, os nossos corpos foram desde o começo o lugar onde o pecado residiu e realizou os seus atos. Convertemo-nos, com o passar do tempo, em pecadores habituais, pois os nossos corpos se encontravam quase automaticamente orientados a fazer o mau. Em outras palavras, estávamos condicionados por uma infinidade de hábitos pecaminosos que residem em nossos corpos.
Por isso, a transformação requer a aquisição de um conjunto inteiramente novo de hábitos espirituais. E isto é algo que nós devemos fazer, embora fundamentados nas misericórdias de Deus em Cristo. Deus nos deu todos os recursos espirituais para que sejamos feitos conforme a imagem de seu Filho. Mas o fazer um uso adequado destes recursos depende de nós.
Como podemos, então, renovar as nossas mentes? A resposta do apóstolo, na linha do que se tem dito até aqui, poderia ser chamada a «escola de Cristo». Nela Cristo é tanto o mestre como o conteúdo a ser aprendido. Em Efésios, como vimos, Paulo nos diz que nela somos ensinados por Cristo segundo a verdade que está em Jesus (4:21).
É interessante observar que o apóstolo usa aqui o nome «Jesus» para referir-se ao Senhor. Por que razão? Porque este tem em mente a Jesus como homem perfeito (o novo homem), a quem somos chamados a seguir e imitar como seus discípulos ou aprendizes. No mundo antigo, os alunos não só deviam aprender o ensino de seu professor, mas também a sua forma de vida. Isto era basicamente um discípulo. E disso se trata a «escola de Cristo».
Certamente, para entrar nesta escola necessitamos, como ponto de partida, um conjunto de habilidades e capacidades espirituais totalmente novas, que o homem natural (e pecador) simplesmente não possui. Mas estas novas habilidades nos foram concedidas e garantidas pelas misericórdias de Deus. Estamos, portanto, em condições de enfrentar a tarefa de sermos discípulos de Cristo e sermos conformados a ele em tudo. Trata-se de nos conformar em tudo a Jesus, tal como ele foi e andou enquanto viveu neste mundo. Sermos semelhantes a ele em sua vida e em sua morte.
Aprendendo de Jesus
Sobre isto temos muito que dizer, mas ao menos podemos nos fixar em dois ou três pontos básicos:
Em primeiro lugar, em fazer da prática da comunhão com Deus a nossa ocupação principal, visto que isto é o que Jesus fazia. Os evangelhos nos dizem que o Senhor se apartava habitualmente para estar a sós com Deus, às vezes bem cedo na manhã. Nada era mais importante para ele. De fato, antes de tomar algumas decisões muito importantes, passava a noite inteira em oração. De modo que, quando afirmava não fazer nada por si mesmo, mas o que via fazer o Pai, referia-se também a sua prática habitual de passar tempo a sós com Deus. Estes são atos que passamos normalmente por alto, pensando equivocadamente que o Senhor estava isento destas práticas. Mas não era assim.
A encarnação do Filho significou que este decidiu percorrer o caminho do homem, e relacionar-se com Deus como homem. Desta maneira ele se converte em nosso Mestre e exemplo de vida espiritual. Se quisermos ser como ele, nos diz João, devemos andar como ele andou. Ou, nas palavras de Pedro, devemos seguir o seu exemplo e andar em suas pisadas.
Em consequência, o tempo a sós com Deus implica o disciplinar nossos corpos para dedicar tempo à comunhão a sós com Deus, e fazer disto a meta principal de nossa vida cristã.
Em segundo lugar, precisamos meditar na palavra de Deus habitualmente. Isto deve ser uma prática disciplinada e constante. Pois só a palavra de Deus tem o poder de despir e remover de nossa mente os hábitos de pensamento do velho homem. O salmo 1 nos fala que meditar na lei de Deus de dia e de noite é a condição essencial para uma vida de abundância espiritual. Pois ao fazê-lo, obrigamos as nossas mentes a sintonizar-se com as coisas e realidades do Espírito.
Renovando a mente
Nossas mentes estão habituadas a percorrer de maneira automática os caminhos, conceitos e crenças falsas deste mundo. Portanto, precisamos exercitá-la de maneira consciente para pensar segundo a verdade que está em Jesus. Cada dia e a cada momento devemos trazer nossas mentes à verdade que está em Jesus e rejeitar os pensamentos antigos que estavam acostumados a governar nossa vida e conduta, até que hábitos completamente novos de pensamento se formem nelas.
Em outras palavras, precisamos trazer, junto com os nossos corpos, as nossas mentes ao Senhor. Para muitos de nós, acostumados às coisas rápidas e instantâneas, tudo isto pode parecer muito estranho e esforçado. Mas, não existem atalhos no caminho da transformação espiritual. Na medida em que a verdade renova a nossa mente, a realidade da qual ela nos fala se converterá em nossa experiência.
As misericórdias de Deus só se tornarão parte da nossa vida e experiência quando aprendermos a pensar e ver todas as coisas através delas. Nossa mente deve ser renovada por elas. E para isso, precisamos aprender a fixar nossas mentes na palavra de Deus, memorizá-la e repeti-la constantemente ao nosso coração. Desta maneira, os velhos hábitos de pensamento serão trocados pelo poder dessa palavra, que é a espada do Espírito, capaz de examinar e trazer à luz os nossos pensamentos e crenças mais profundos. Então, a vida que está em nosso espírito fluirá para a nossa alma e o nosso corpo mortal.
O Corpo
Neste caminho, finalmente, precisamos viver em comunhão e sujeição ao corpo de Cristo. Aprender a confiar as nossas lutas, dúvidas e dificuldades a outros e a esperar direção, sabedoria e conselho divinos da parte deles. Isto é parte fundamental da escola de Cristo.
A disposição para sermos ensinados, corrigidos e ajudados por Cristo através dos nossos irmãos, forma parte essencial de nosso seguir a Cristo como discípulos, para aprender dele e sermos ensinados por ele. De fato, este foi o assunto que Paulo tratou no texto que segue às misericórdias de Deus (Rom. 12:3 ss.).
Finalmente, é necessário dizer que a graça não é contrária ao esforço, mas ao mérito. Nada do que foi dito até aqui nos fará mais justos ou aceitáveis diante de Deus. Isto é um dom gratuito de Deus em Cristo, de acordo com a primeira parte de Romanos. Não obstante, existe, de acordo com o próprio apóstolo Paulo, a necessidade de nos esforçarmos na graça que esta em Cristo Jesus (1ª Tim. 2:1). Sem este esforço «na graça», as maravilhosas misericórdias de Deus e tudo o que elas implicam, permanecerão como um ideal, um desejo ou um lindo ensino, mas nunca se converterão em algo que provamos e comprovamos por experiência.
..."a primeira coisa que devemos fazer, a fim de renovar as nossas mentes, é apresentar os nossos corpos a Deus em holocausto vivo, segundo Romanos 12:1"...
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